segunda-feira, 13 de outubro de 2014

PORQUE A RUA É/ERA UM BOM LUGAR? QUEM GANHAVA O "JOGO"?

O esporte praticado na rua tem/tinha como principal objetivo satisfazer os desejos de quem o praticava. Podemos entender o desejo de cada um como queiramos. Para mim por exemplo, era divertir-me e passar bons momentos com meus amigos, lembro-me que quando o jogo era bom nunca acompanhava o placar, sempre havia outros amigos mais atentos que eu, pois não me importava contar os tentos. Mas divertir-se para outros amigos era vencer mais do que perder. Quando estavam todos a levar o jogo menos "a sério", eles saíam bravos e se sentavam na calçada dizendo que não queriam mais jogar - quando era o dono da bola as vezes acabava com o jogo. Outros esperavam o jogo “sério” acabar e continuavam jogando de forma mais “descompromissada”: batiam falta, brincavam de driblar uns aos outros, de cruzamento e fazer “firula”. Há/havia muitos tipos de jogadores na rua. Acredito que ao ler essas descrições deve estar a identificar alguns dos personagens que citei ou deve estar a pensar em outros. Mas enfim, a rua é/era um ambiente democrático e cooperativo, um bom lugar porque todos se divertiam, cada um à sua maneira, mas só pensavam em se divertir, havia espaço para todos. Na minha opinião o futebol de rua prepara/preparava para a vida, pois é/era uma grande analogia à vida.

O que acontece é que o esporte profissional - a grande máquina de gerar entretenimento - não pensa em primeiro plano no desejo de quem pratica, e sim de quem investe, assiste, recebe, compra, vende, etc. Dessa forma, começa não só a descaracterizar o que é arte - enquanto manifestação cultural universal – como cria uma sombra que acaba por descaraterizar o esporte semi-profissional, o esporte infanto-juvenil. Como isso se passa? Muitos exemplos podem servir para ilustrar essa afirmação, em diversos setores que o esporte abrange, como por exemplo o fato do uso de tecnologias e usos de substâncias exclusivas não comercializadas, que distancia cada vez mais cidadãos comuns de atletas, fazendo com que crianças e jovens espectadores pensem ser inatingível o nível de seu ídolo. Vejo um desinteresse muito grande dos jovens quando se dão conta disso. Outro fator é o da formação de jovens atletas estar guiadas para um sistema de extrema competitividade, estabelecida por resultados. Ora, por quê não pode ganhar a equipe na qual os jogadores se divertiram mais ao invés de ganhar a que faz mais pontos? (calma… é só uma provocação, não quero dizer que pense nisso como o ideal). O fato a considerar é que, na minha opinião, esse sistema excessivamente competitivo faz avaliações arbitrárias do desempenho dos atletas e da equipe, é excludente, não promove a cooperação, não tolera o erro, trata adversário como inimigo e companheiro como concorrente (qualquer semelhança ao ambiente de trabalho na vida adulta não é mera coincidência). É representado pelo famoso modelo hierárquico, assim como aprendemos que quase tudo podemos colocar numa pirâmide na qual quanto mais próximo do cume, menos pessoas tendem a chegar. Parece-me que nesse modelo vencer é requisito para se viver bem. E há quem “perca” a vida correndo atrás da vitória (muitas vezes a qualquer custo).

Agora algumas perguntas: Podemos não nos basear nessa figura em forma de pirâmide, ou seja, podemos fazer com que mais jovens se divirtam e menos abandonem o esporte? E qual a lição que esporte praticado na rua pode nos ensinar?

A RESPOSTA ESTÁ BEM À NOSSA FRENTE, É SÓ MUDAR O FOCO DE VISÃO PARA PERCEBER, MUDAR E ASSIM DAR PRIORIDADE A QUEM MERECE! POIS HÁ QUEM NÃO CONSIGA VER DIFERENÇA ENTRE ESTAS DUAS FOTOS!




sábado, 5 de abril de 2014

Balanço do V Congresso de Ciência do Desporto



Nos últimos dias, mais precisamente 2, 3 e 4 de abril de 2014, aconteceu na Universidade Estadual de Campinas o V Congresso de Ciência do Desporto. Com o olhar atento ao evento e as peculiaridades nele presentes, compartilho a experiência e emito minha opinião nesse canal de comunicação, sem a pretensão, é claro, de deter da verdade. Considerem como um ponto de vista.

O Evento: Congresso pequeno em número de participantes. Sem oficialidade dos dados, me disseram que não passou de 400 pessoas. Número pequeno comparado a outros Congressos da área, nacionais se internacionais. No entanto, o evento estava bem organizado, os temas das palestras e mesas redondas estavam muito pertinentes à proposta do Congresso. Temas como uso de tecnologias para análise biomecânica no esporte, pedagogia do esporte, fisiologia do esporte e do exercício, violência no esporte, sociologia do esporte, psicologia do esporte, etc. Não havia como não se interessar por pelo menos dois ou três temas. Ademais, percebeu-se que os palestrantes, em sua maioria, trouxeram o que tinham de melhor em suas apresentações.

Trabalhos Científicos: Fiquei contente com a qualidade dos trabalhos científicos. Tanto os trabalhos apresentados como pôster, quanto os trabalhos de apresentação oral tinham seu valor. Embora sabemos que o espaço para comunicação é restrito e muitos dos trabalhos eram apenas parte de estudos maiores e mais detalhados, foi um passo adiante, pois frequento eventos científicos desde meu primeiro ano de graduação (2004), e percebia que a maioria desse eventos aceitavam trabalhos pouco relevantes, sem problemas de pesquisa definidos, com falha na análise estatística. Isso sempre me incomodou muito. E não posso negar que participei de trabalhos pouco relevantes como pesquisador iniciante (que, aliás, ainda sou!).
A Pesquisa: É impressionante como a pesquisa avança. A pesquisa, mas não necessariamente o conhecimento, e menos ainda as intervenções didático-pedagógicas no esporte. A medida que a tecnologia nos permite investigar variáveis em diferentes óticas, desde microscópica, como nos casos de estudos que envolvem genética, ou em esferas macroscópicas, como nos casos de estudos que analisam padrões táticos de equipes de esportes coletivos, permitindo um entendimento do sistema, do todo complexo. No V Congresso de Ciência do Desporto, me familiarizei com diferentes procedimentos, técnicas, termos, análises, etc.

Destaques: Embora não sejam áreas que domino e que concentro meus estudos, coloco como destaques as pesquisas e os pesquisadores da área da sociologia do esporte e da educação física e esportes adaptados. Enxerguei nos temas possibilidades. Na sociologia, possibilidades de um entendimento do nosso papel social e transformação do contexto esportivo educacional. Na EF e esportes adaptados, a palavra possibilidade entra para substituir a palavra limitação, que abrange amplo aspecto, e que não vou discorrer aqui, pois mereceria um texto só para falar disso.

O Pesquisador e a Ciência: Não quero nesse meu comentário cometer o erro de generalizar e atribuir “rótulos” à todos os pesquisadores. Mas o fato é que também não aguento ficar calado para certos comportamentos da comunidade científica. E o que mais me incomoda e me faz pensar se quero mesmo seguir nessa área é o fato recorrente, desde quando me reconheço como pesquisador (em formação, como dito anteriormente), de os estudos se findarem na complexidade metodológica e não na contribuição ao profissional que atua na intervenção prática. A partir de agora minha crítica não tem a ver com a organização do Congresso e sim pela maneira como alguns pesquisadores encaram a pesquisa.
Esse tema, por me incomodar, merece um pouco mais de abertura e encontrei aqui uma forma de manifestar e sugerir, já que a crítica por si só torna-se vazia. Os pesquisadores, ao apresentarem seus trabalhos e concluirem seus estudos focam em mostrar que: “meu estudo fez algo diferente dos demais”; ou “meu trabalho tem valia pois foi um dos poucos a utilizarem tal equipamento para medir/testar/avaliar tal variável”; ou ainda “meu estudo é metodologicamente impecável”. E isso não me incomodaria, pois considero como essenciais nos estudos científicos tais características citadas acima, não fosse o fato que pouquíssimos estudos no Congresso foram concluídos com base em inferencias sobre aplicações práticas. Me deixou perplexo que, ao concluir uma apresentação do estudo, alguns autores em nenhum momento citem frases como: “portanto, a partir dos resultados apresentados podemos treinar de tal forma”; ou “de acordo com os resultados, o treinador/preparador físico/professor pode prescrever seus treinos com base nesse ou naquele achado”. Não faz sentido pesquisadores na área da Ciência do Desporto não conseguirem com seus próprios estudos encontrarem uma solução, que seja algo mínimo, mas que modifique o treinamento do atleta em busca de melhor redimento esportivo. Ao contrário disso, percebi que dezenas de questionamentos que surgiam naquele curto tempo após as apresentações, os ouvintes e o autor começavam a  discutir possíveis estudos futuros, desenhos metodológicos que seriam também aceitos para publicação, em vez de meios para melhorar o treinamento, o que justificaria, na minha opinião, que o trabalho fosse apresentado no congresso.
Alguns vão discordar de mim com o seguinte argumento: “primeiro é necessário que os conceitos sejam bem estabelecidos na literatura científica para depois começarmos a estabelecer procedimentos para atuação prática. E isso pode durar de 4 a 10 anos”. No entanto, o que percebo é que essa hora nunca chega. E por quê? Porque há pesquisadores que querem mesmo é publicar. E ponto!!! Mais uma vez, podem não concordar comigo, mas vi vários temas surgindo e pesquisadores ansiosamente apavorados para “pegarem carona nessa onda”, para serem também contribuintes da ciência. Ai quando cessa o interesse por determinado tema, muitas vezes porque os resultados já estão bem estabelecidos na literatura, seria hora certa daquelas informações acumuladas tornarem acessíveis à profissionais que consideramos “da prática”. Mas antes disso os pesquisadores mudam o foco de sua pesquisa em seus laboratórios: uma hora estudo efeito da suplementação, na outra os sprints repetidos em modalidades intermitentes, na outra hora estudo aspectos tático-técnicos em modalidades coletivas, na outra estudo efeito da isquemia no rendimento em diferentes tarefas… e por ai vai. Se sai algum paper novo eu quero começar a pesquisar para não ficar para trás. E isso por quê? Porque o pesquisador quer publicar, porque os órgãos de fomento exigem, porque é indicativo determinante de status social no meio acadêmico e pesquisadores, em sua maioria, são egocêntricos, etc. Dessa forma, estamos escrevendo para quem ler? E quem vai aplicar o conhecimento que foi produzido (isso se alguém ler)? Façamos essa reflexão, por favor. "Ei pesquisador, você não é mais importante que o sujeito que está ministrando suas aulas nos campos, quadras, pistas, etc., nem menos importante, diga-se de passagem". Como treinador, professor universitário, pesquisador (iniciante), preciso entender essas questões e quero modificar esse quadro. O rumo das pesquisas está correto, estamos evoluindo, o que não está certo é o que fazemos com essas pesquisas. O fato que ilustra muito bem o que descrevi acima foi quando, ao parabenizar um pesquisador pelo seu excelente trabalho, sugeri que testássemos com uma equipe de futebol na qual tenho acesso. Disse a ele que o treinador aceitaria o desafio e que poderíamos acompanhar por meses tal equipe. Mas o pesquisador me disse que estavam ocupados com outras pesquisas, outras variáveis a serem estudadas e me falou algo mais que não ouvi tamanha decepção que senti naquele momento. Percebi que tem muitos pesquisadores que não querem sair do laboratório, que não se interessam em resolver os problemas do treinador, que não aguentariam coletar dados por meses em uma equipe, debaixo de chuva e sol. Eles estão preocupados em publicar, JCR das revistas, índice H, qualis dos periódicos. Mas esses mesmos pesquisadores adoram inferir, supor, deduzir, teorizar sobre o que o "cara da prática" deveria fazer.

As vezes tenho que concordar com a frase triste e cômica do livro de Thomas, Nelson e Silverman (2012): “Artigos científicos não foram feito para serem lidos e sim publicados”.

Encerro citando outra vez que não quero criar rótulos e generalizar. Só não quero deixar que a área da pesquisa se contamine por certos comportamentos de acadêmicos com potencial brilhante, mas alienados dentro de de suas conchas, produzindo pérolas e achando que elas são mais grandiosas do que o oceano todo. A pérola só tem seu valor quando está fora da concha e está acessível ao olhar de quem quer admirá-la. Mas por mais bonita que seja, ela não é mais bela que os outros elementos que convivem no mesmo ecossistema, os quais ela depende também para sobreviver.


Concordam comigo? Discordam? Querem me colocar na listinha de “inimigos acadêmicos” a partir de agora? rsrs

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Etapas do Desenvolvimento Para o Jogo

 

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Durante o processo de formação do futebolista, além das modificações advindas do desenvolvimento biológico, há uma contribuição das competências que fornecem subsídios para a construção do “jogar”.

Para iniciarmos tal reflexão recorremos às considerações de Garganta (1) que salienta o desenvolvimento tático-cognitivo, técnico e sócio-afetivo como fundamentais do ensino dos jogos desportivos coletivos, no qual se enquadra o futebol. Além disso, salienta dois traços característicos fundamentais: a cooperação e a inteligência; como recursos de máxima importância para entendermos as fases do “jogar”. Para essa primeira (cooperação), entende-se como a comunicação dentro jogo através de referências comuns, manifestando a individualidade ao cumprimento dos interesses da equipe. E por inteligência entende-se a capacidade de adaptar-se aos problemas aleatórios do jogo, significa elaborar e operar respostas satisfatórias a cada um desses “problemas de jogo” (1, 2).

Dessa forma, precisamos compreender algumas características que levam em consideração a qualidade do jogo no quadro abaixo:

Indicadores de Nível Fraco de Jogo

Indicadores de Nível Bom de Jogo

· Todos junto da bola (aglutinação)

· Querer a bola só para si (individualismo)

· Não procurar espaços para facilitar o passe do colega que tem a bola

· Não defender

· Estar sempre falando para pedir a bola ou criticar os colegas

· Não respeitar as decisões do árbitro

· Fazer correr a bola (passar)

· Afastar-se do colega que tem a bola

· Dirigir-se para espaços vazios no sentido de receber a bola

· Intencionalidade: receber a bola e observar (ler o jogo)

· Ação após passe: movimentar para criar linha de passe

· Aclaramento: afastar-se do colega que tem a bola e ocupar o seu espaço

· Não esquecer o objetivo do jogo (fazer gol)

Adaptado de Garganta (1)

Ao passo que a qualidade do jogo pode ser observada pelos praticantes e podem se manifestar em diferentes níveis, Garganta (1) divide em quatro as fases o desenvolvimento para o jogo: anárquica, descentração, estruturação e elaboração; as quais são caracterizadas no quadro a seguir.

FASES

RELAÇÃO COM BOLA

ESTRUTURAÇÃO DO ESPAÇO

COMUNICAÇÃO NA AÇÃO

Anárquica

Relação Eu-Bola

Subfunções

Problemas na comunicação

Elevada utilização da visão central

Concentração em torno da bola e subfunções

Abuso da verbalização, sobretudo para pedir a bola

Descentração

A função não depende apenas da posição da bola

Relação Eu-Bola-Companheiro

Da visão central à periférica

Ocupação do espaço em função dos elementos do jogo

Prevalência da verbalização

Início da metacomunicação

Estruturação

Conscientização da coordenação das funções

Do controle visual para o proprioceptivo

Ocupação racional do espaço

Verbalização e comunicação gestual

Elaboração

Ações inseridas na equipe

Ação cooperativa

Otimização das capacidades técnicas

Polivalência funcional

Prevalência da metacomunicação

(comunicação corporal)

Adaptado de Garganta (1)

Partindo dessa premissa, o jogo torna-se a maior ferramenta de ensino e o melhor indicador de evolução do futebolista. Assim sendo, a compreensão das fases do jogo nos permite organizar conteúdos que facilitem a aprendizagem ao longo do processo de formação de futebolistas.

Referências Bibliográficas

1. Garganta J. Para uma teoria dos jogos esportivos coletivos. In: Graça A, Oliveira, J., editor. O ensino dos jogos esportivos coletivos. 2ed ed: Universidade do Porto; 1995. p. 11-25.

2. Garganta J. Competências no ensino e treino de jovens futebolistas. Lecturas Educación Fisica y Deportes [serial on the Internet]. 2002; 8(45): Available from: http://www.efdeportes.com/efd45/ensino.htm.

terça-feira, 16 de outubro de 2012

JOGOS REDUZIDOS NO FUTEBOL: EFEITO DA DIFERENÇA NUMÉRICA ENTRE AS EQUIPES E ADEQUAÇÃO DAS CARGAS DE TREINAMENTO

 

Pasquarelli, B.N.1,2, Rabelo, F.N.1, Matzenbacher, F.1, Milanez, V.F.¹; Stanganelli, L.C.R1.

1: Universidade Estadual de Londrina, Londrina-PR.

2: Universidade Paulista, São José dos Campos-SP.

Introdução

No futebol, reconhecido como um jogo desportivo coletivo, deve-se treinar em busca de uma congruência entre todos os jogadores com relação as funções dentro do jogo. Assim, podemos definir esse comportamento coletivo como “Modelo de Jogo” de uma equipe.

Entretanto, preparar a equipe para adotar padrões específicos nas fases do jogo: ofensivas, defensivas e nas transições; implica em requisitar que as componentes técnicas, físicas, psicológicas e táticas sejam ajustadas às demandas do modelo de jogo da equipe. Um exemplo claro de como isso ocorre é se analisarmos a equipe do Barcelona; que adota um padrão de recuperação da posse de bola imediatamente após a sua perda ou que, predominantemente, mantém a posse de bola com um jogo apoiado, o qual requer grande mobilidade de seus jogadores na criação de linhas de passe.

Dessa forma, analisando somente essas duas características da equipe catalã, podemos identificar algumas características dos jogadores que a compõem: desempenho ótimo na capacidade aeróbia específica, ocupação racional do espaço e proficiência no passe.

Visto que os jogadores tem desempenho quantitativo e qualitativo diferente em cada uma das capacidades exigidas pelo jogo, gostaria de mostrar parte de um estudo de mestrado que teve como objetivo adequar as cargas de treinamento físico por meio de jogos reduzidos (JR) e verificar seu efeito no condicionamento aeróbio de jovens jogadores de futebol.

Material e Métodos

Participaram do estudo 17 jogadores de futebol (idade: 15,7 ± 0,5 anos). Antes e depois de oito semanas de treinamento, os indivíduos foram submetidos à avaliação da economia de corrida a 7 km.h-1 e 12 km.h-1 (EC7 e EC12, respectivamente) e para capacidade aeróbia específica pelo Yo-Yo Intermittent Recovery Test 1 (YYIR1). Os sujeitos foram divididos em dois grupos, os quais treinaram com inferioridade (JR-IN, < mediana no YYIR1, n = 8) ou superioridade numérica na equipe (JR-SN, > mediana no YYIR1, n = 9). Essa divisão foi utilizada durante 14 sessões de JR, todos com duração de 4x4 min e 5 min recuperação, com os seguintes formatos: a) 3vs.4, 20x30m; b) 4vs.5, 25x35m; c) 5vs.6, 30x40m. A intensidade dos JR foi analisada pelo percentual da frequência cardíaca máxima (%FCmáx) e de reserva (%FCres) (Suunto Team Pod,, Suunto Oy, Finlândia) e pela escala CR-10 de percepção subjetiva de esforço (PSE). Os valores da intensidade foram comparados mediante a utilização do teste “t” de Student para amostras independentes e análise multivariada para verificar o efeito do treinamento. As análises foram realizadas pelo programa SPSS (versão 18.0, SPSS Inc.), adotando-se como significante P<0,05.

Resultados

A intensidade dos treinamentos de JR foi maior no grupo JR-IN comparado ao grupo JR-SN (P<0,05): %FCmáx = 91,6±3,65 vs. 89,5±4,5; %FCres = 87,8±4,9 vs. 85,5±6,5; PSE (U.A.) = 5,6±1,3 vs. 4,9±1,2 (Figura 1 e 2).

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Figura 1

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Figura 2

Após sete semanas de treinamento através de JR, os indicadores mostraram melhora no condicionamento aeróbio nos dois grupos (P<0,05): YYIR1 = 16,6% vs. 4,6%; EC7 = 11,6% vs. 7,5%; EC12 = 12,3% vs. 7,5%; respectivamente para os grupos JR-IN e JR-SN (Figura 3, 4 e 5).

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Figura 3

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Figura 4

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Figura 5

Conclusão

O treinamento utilizando JR melhorou o condicionamento aeróbio de jovens jogadores de futebol de ambos os grupos. O procedimento adotado para adequação das cargas de treinamento às necessidades dos atletas foi eficiente, haja vista que indivíduos menos condicionados, alocados em equipes com inferioridade numérica, obtiveram cargas de treino maiores que os demais jogadores e o efeito somatório dessas cargas resultou em um aumento de maior magnitude no condicionamento aeróbio ao final de oito semanas de treinamento por meio de JR. Assim sendo, tais jogadores estariam mais preparados à cumprirem as exigências do modelo de jogo da equipe, com relação a demanda física do jogo.

 

Trabalho apresentado no 5º Congresso Brasileiro de Ciências do Futebol (2012)

 

 

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Pico de Velocidade de Crescimento (PVC): alternativa para o acompanhamento da maturidade somática do jovem atleta


A idade do pico de velocidade de crescimento (PVC) é o indicador mais comumente utilizado em estudos longitudinais, considerando a maturidade somática do adolescente (MALINA; BOUCHARD; BAR-OR, 2009), podendo figurar numa interessante alternativa de classificação biológica. Mediante o acompanhamento das variáveis de crescimento, pode-se detectar o momento em que o indivíduo atinge o PVC. Embora seja possível determinar os picos de velocidade em estatura, peso corporal e somatório de dobras cutâneas, o marco somático mais utilizado em estudos da velocidade do crescimento é a idade do pico da estatura (BAXTER-JONES; EISENMANN; SHERAR, 2005).

Obviamente, seriam necessárias várias medidas durante um determinado período do crescimento, o que tornaria essa metodologia inviável para investigações transversais, quando apenas a realização de uma única medida fosse possível (MACHADO; BONFIM; COSTA, 2009). Neste sentido, Mirwald et al. (2002) desenvolveram uma técnica prática e não invasiva, que requer uma avaliação única de poucas variáveis antropométricas, capaz de predizer a distância em anos em que um indivíduo se encontra da sua idade do PVC.

Usando os sincronismos diferenciais conhecidos do crescimento da estatura, da altura tronco encefálica e dos membros inferiores, é possível pressupor que as relações proporcionais de mudança entre esses segmentos, podem prover uma indicação do status maturacional (BAXTER-JONES; EISENMANN; SHERAR, 2005). Nesse modelo, foram incluídas interações entre comprimento de perna e altura tronco encefálica, idade e comprimento de pernas, idade e altura tronco encefálica, bem como razão entre peso e estatura.

Aceitáveis índices de determinação (r2=0,89) e erro padrão da estimativa (EPE=0,569) foram encontrados (MIRWALD et al.,2002). Além do mais, o nível de precisão do modelo tem sido investigado em outros estudos, uma vez que é possível sua aplicação em diferentes delineamentos de pesquisa (SHERAR et al., 2005; SHERAR; BAXTER-JONES; MIRWALD, 2004). A utilização de instrumentos para avaliação da maturação biológica, que sejam eficientes e de fácil aplicação, pode auxiliar na correta interpretação da maturação relacionada ao desempenho motor. Todavia, a indicação da melhor alternativa deve ser investigada, uma vez que seus efeitos podem contribuir para a elaboração de um plano didático-metodológico que norteiem os exercícios para jovens esportistas (MACHADO; BONFIM; COSTA, 2009).

Para meninos

DPVC = – 9,236 + [0,0002708 x (CPxTC)] + [–0,001663 x (IxCP)] + [0,007216 (IxTC)] + [0,02292 x (P/E)x100]

Para meninas

DPVC = – 9.376 + [0,0001882 x (CPxTC)] + [0,0022 x (IxCP)] + [0,005841 x (IxTC)] – [0,002658 x (IxP)] + [0,07693 x (P/E)x100]

Onde: CP = Comprimento de Perna; TC = Altura Tronco encefálica; I = Idade; P = Peso; E = Estatura.

Analisemos, então, um exemplo prático para melhor entendimento:

Indivíduo A
Sexo: masculino
Idade: 11,25 anos
Estatura: 149,4 cm
Peso corporal: 40,0 kg
Comprimento de perna: 70,4 cm
Altura tronco encefálica: 79,0 cm

Calculando a distância, em anos, que o indivíduo se encontra do PVC:

DPVC = 9,236 + (0,0002708 x 5561,60) + ( 0,001663 x 792,21) + (0,007216 x 888,99) + (0,02292 x 26,77)

           = 2,0 anos do PVC

Assim,

Idade em que atingirá o PVC (IPVC) = 11,25 – (– 2,0) = 13,25 anos.

Estudos longitudinais como de Beunen et al. (1997) e Lefreve et al. (1990) apresentaram valores de 14,2 anos de idade no PVC e 14,3 anos de idade no PVC, respectivamente. Importantes estudos transversais como de Iuliano-Burns, Mirwald e Bailey (2001) e Sherar, Baxter-Jones e Mirwald (2004), envolvendo escolares, identificaram o PVC nas idades 13,4 anos e 13,7 anos, respectivamente. Malina, Bouchard e Bar-or (2009) sintetizaram estudos envolvendo meninos europeus os quais demonstraram faixas entre 13,8 e 14,2 anos de idade coincidindo com o PVC. Segundo estes autores, há uma provável interferência de fatores étnicos e sócio-econômicos nestas variações do momento de PVC.

Em um estudo envolvendo praticantes brasileiros de futebol, Machado, Bonfim e Costa (2009) evidenciaram uma média etária do PVC correspondente a 14,7 anos. Por outro lado, Bergmann et al. (2007) encontraram médias etárias do PVC consideravelmente menores, apresentando valores entre 12 e 13 anos representados por escolares brasileiros.

Analisando a relação entre PVC e desempenho físico, alguns autores sugerem uma “janela de treinabilidade” para as seguintes capacidades físicas:


Para os profissionais envolvidos na formação esportiva de atletas, estas informações são de suma importância para determinar quais estratégias de treinamento poderiam ser adotadas ao prescrever as cargas de treino. Em termos práticos, jovens atletas que atingem o PVC tardiamente não podem ser submetidos à cargas de treino, por exemplo, semelhantes às daqueles que o atingiram, considerando que já ultrapassaram estágios importantes de desenvolvimento físico em direção à idade adulta. Deste modo, a identificação da idade de PVC de jovens atletas consiste em um importante parâmetro para estimar em que estado maturacional eles se encontram, o que contribui para o melhor entendimento de suas características respeitando suas evoluções físicas individuais.

Referências

BAXTER-JONES, A. D. G.; EISENMANN, J. C.; SHERAR, L. B. Controlling for maturation in pediatric exercise science. Pediatric Exercise Science, v. 17, n. 1, p. 18-30, 2005.

BERGMANN, G. G. et al. Pico de velocidade em estatura, massa corporal e gordura subcutânea de meninos e meninas dos 10 aos 14 anos de idade. Revista Brasileira de Cineantropometria e Desempenho Humano, v. 9, n. 4, p. 333-338, 2007.

BEUNEN, G. et al. Prediction of adult stature and noninvasive assessment of biological maturation. Medicine and Science in Sports and Exercise, v. 29, n. 2, p. 225-230, 1997.

FORD, P. et al. The long-term athlete development model: physiological evidence and application. Journal of Sports Sciences, v. 29, n. 4, p. 389-402, 2011.

IULIANO-BURNS, S.; MIRWALD, R. L.; BAILEY, D. A. Timing and magnitude of peak height velocity and peak tissue velocities for early, average and late maturing boys and girls. American Journal of Human Biology, v. 13, n. 1, p. 1-8, 2001.

LEFREVE, J. et al. Motor performance during adolescence and age thirty as related to age at peak height velocity. Annals of Human Biology, v. 17, n. 5, p. 423-435, 1990.

MACHADO, D. R. L.; BONFIM, M. R.; COSTA, L. T. Pico de velocidade de crescimento como alternativa para classificação maturacional associada ao desempenho motor. Revista Brasileira de Cineantropometria e Desempenho Humano, v. 11, n. 1, p. 14-21, 2009.

MALINA, R. M.; BOUCHARD, C.; BAR-OR, O. Crescimento, maturação e atividade física. 2 ed. São Paulo: Phorte, 2009. 784 p.

MENDEZ-VILLANUEVA, A. et al. Is the relationship between sprinting and maximal aerobic speeds in young soccer players affected by maturation? Pediatric Exercise Science, v. 22, p. 497-510, 2010.

MIRWALD R. L. et al. An assessment of maturity from anthropometric measurements. Medicine and Science in Sports and Exercise, v. 34, n. 4, p. 689-694, 2002.

PHILIPPAERTS, R. M. et al. The relationship between peak height velocity and physical performance in youth soccer players. Journal of Sports Sciences, v. 24, n. 3, p. 221-230, mar. 2006.

ROWLAND, T.W. Fisiologia do exercício na criança. 2ed. São Paulo: Manole, 2008. 295p.

SHERAR L. B. et al. Prediction of adult height using maturity based cumulative height velocity curves. Journal of Pediatrics, v. 147, n. 4, p. 508-514, 2005.

SHERAR L.B.; BAXTER-JONES A.D.G.; MIRWALD R.L. Limitations to the use of secondary sex characteristics for gender comparisons. Annals of Human Biology, v. 31, n. 5, p. 586-593, 2004.