A idade do pico de velocidade de crescimento (PVC) é
o indicador mais comumente utilizado em estudos longitudinais, considerando a
maturidade somática do adolescente (MALINA; BOUCHARD; BAR-OR, 2009), podendo figurar
numa interessante alternativa de classificação biológica. Mediante o
acompanhamento das variáveis de crescimento, pode-se detectar o momento em que
o indivíduo atinge o PVC. Embora seja possível determinar os picos de
velocidade em estatura, peso corporal e somatório de dobras cutâneas, o marco
somático mais utilizado em estudos da velocidade do crescimento é a idade do
pico da estatura
(BAXTER-JONES; EISENMANN; SHERAR, 2005).
Obviamente, seriam necessárias várias medidas
durante um determinado período do crescimento, o que tornaria essa metodologia
inviável para investigações transversais, quando apenas a realização de uma
única medida fosse possível
(MACHADO; BONFIM; COSTA, 2009). Neste
sentido, Mirwald et al. (2002) desenvolveram
uma técnica prática e não invasiva, que requer uma avaliação única de poucas
variáveis antropométricas, capaz de predizer a distância em anos em que um
indivíduo se encontra da sua idade do PVC.
Usando os sincronismos diferenciais conhecidos do
crescimento da estatura, da altura tronco encefálica e dos membros inferiores,
é possível pressupor que as relações proporcionais de mudança entre esses
segmentos, podem prover uma indicação do status
maturacional (BAXTER-JONES;
EISENMANN; SHERAR, 2005). Nesse modelo,
foram incluídas interações entre comprimento de perna e altura tronco
encefálica, idade e comprimento de pernas, idade e altura tronco encefálica,
bem como razão entre peso e estatura.
Aceitáveis índices de determinação (r2=0,89)
e erro padrão da estimativa (EPE=0,569) foram encontrados (MIRWALD et al.,2002). Além do mais, o nível de
precisão do modelo tem sido investigado em outros estudos, uma vez que é
possível sua aplicação em diferentes delineamentos de pesquisa (SHERAR et al., 2005; SHERAR; BAXTER-JONES; MIRWALD, 2004). A utilização de instrumentos para avaliação
da maturação biológica, que sejam eficientes e de fácil aplicação, pode
auxiliar na correta interpretação da maturação relacionada ao desempenho motor.
Todavia, a indicação da melhor alternativa deve ser investigada, uma vez que
seus efeitos podem contribuir para a elaboração de um plano
didático-metodológico que norteiem os exercícios para jovens esportistas (MACHADO;
BONFIM; COSTA, 2009).
Para meninos
DPVC = – 9,236 + [0,0002708 x (CPxTC)] + [–0,001663
x (IxCP)] + [0,007216 (IxTC)] + [0,02292 x (P/E)x100]
Para meninas
DPVC = – 9.376 + [0,0001882 x (CPxTC)] + [0,0022 x (IxCP)] + [0,005841 x
(IxTC)] – [0,002658 x (IxP)] + [0,07693 x (P/E)x100]
Onde: CP = Comprimento de Perna; TC = Altura Tronco encefálica; I =
Idade; P = Peso; E = Estatura.
Analisemos, então, um exemplo prático para melhor
entendimento:
Indivíduo A
Sexo: masculino
Idade: 11,25
anos
Estatura: 149,4 cm
Peso corporal: 40,0 kg
Comprimento de perna: 70,4 cm
Altura tronco encefálica: 79,0 cm
Calculando a distância, em anos, que o
indivíduo se encontra do PVC:
DPVC = –
9,236 + (0,0002708 x 5561,60) + (– 0,001663
x 792,21) + (0,007216 x 888,99) + (0,02292 x 26,77)
= – 2,0 anos do PVC
Assim,
Idade em que atingirá o PVC (IPVC) =
11,25 – (– 2,0) = 13,25 anos.
Estudos longitudinais como de Beunen et al. (1997) e Lefreve et al. (1990) apresentaram valores de
14,2 anos de idade no PVC e 14,3 anos de idade no PVC, respectivamente.
Importantes estudos transversais como de Iuliano-Burns,
Mirwald e Bailey (2001) e Sherar,
Baxter-Jones e Mirwald (2004),
envolvendo escolares, identificaram o PVC nas idades 13,4 anos e 13,7 anos,
respectivamente. Malina, Bouchard e Bar-or (2009) sintetizaram estudos
envolvendo meninos europeus os quais demonstraram faixas entre 13,8 e 14,2 anos
de idade coincidindo com o PVC. Segundo estes autores, há uma provável
interferência de fatores étnicos e sócio-econômicos nestas variações do momento
de PVC.
Em um estudo envolvendo praticantes brasileiros de futebol,
Machado, Bonfim e Costa (2009) evidenciaram uma média etária do PVC
correspondente a 14,7 anos. Por outro lado, Bergmann et al. (2007) encontraram médias etárias do PVC consideravelmente
menores, apresentando valores entre 12 e 13 anos representados por escolares
brasileiros.
Analisando a relação entre PVC e desempenho físico, alguns
autores sugerem uma “janela de treinabilidade” para as seguintes capacidades
físicas:
Para os profissionais envolvidos na formação
esportiva de atletas, estas informações são de suma importância para determinar
quais estratégias de treinamento poderiam ser adotadas ao prescrever as cargas
de treino. Em termos práticos, jovens atletas que atingem o PVC tardiamente não
podem ser submetidos à cargas de treino, por exemplo, semelhantes às daqueles
que o atingiram, considerando que já ultrapassaram estágios importantes de
desenvolvimento físico em direção à idade adulta. Deste modo, a identificação
da idade de PVC de jovens atletas consiste em um importante parâmetro para
estimar em que estado maturacional eles se encontram, o que contribui para o
melhor entendimento de suas características respeitando suas evoluções físicas
individuais.
Referências
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A. D. G.; EISENMANN, J. C.; SHERAR, L. B. Controlling for maturation in
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L.B.; BAXTER-JONES A.D.G.; MIRWALD R.L. Limitations
to the use of secondary sex characteristics for gender comparisons. Annals of Human Biology, v. 31, n. 5,
p. 586-593, 2004.
Um comentário:
ola, Felipe gostei muito da sua postagem e gostaria de saber se existe a possibilidade de me enviar esse artigo para que eu possa ler por favor!
desde já muito obrigado!
judoreacao@gmail.com
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