O esporte praticado na rua tem/tinha como
principal objetivo satisfazer os desejos de quem o praticava. Podemos entender
o desejo de cada um como queiramos. Para mim por exemplo, era divertir-me e
passar bons momentos com meus amigos, lembro-me que quando o jogo era bom nunca
acompanhava o placar, sempre havia outros amigos mais atentos que eu, pois não
me importava contar os tentos. Mas divertir-se para outros amigos era vencer
mais do que perder. Quando estavam todos a levar o jogo menos "a sério", eles
saíam bravos e se sentavam na calçada dizendo que não queriam mais jogar - quando era o dono da bola as vezes acabava com o jogo. Outros esperavam o jogo
“sério” acabar e continuavam jogando de forma mais “descompromissada”: batiam
falta, brincavam de driblar uns aos outros, de cruzamento e fazer “firula”. Há/havia muitos tipos de
jogadores na rua. Acredito que ao ler essas descrições deve estar a identificar
alguns dos personagens que citei ou deve estar a pensar em outros. Mas enfim, a rua é/era um ambiente democrático e cooperativo, um bom lugar porque todos se divertiam, cada um à sua maneira, mas só
pensavam em se divertir, havia espaço para todos. Na minha opinião o futebol de
rua prepara/preparava para a vida, pois é/era uma grande analogia à vida.
O que acontece é que o esporte
profissional - a grande máquina de gerar entretenimento - não pensa em primeiro
plano no desejo de quem pratica, e sim de quem investe, assiste, recebe,
compra, vende, etc. Dessa forma, começa não só a descaracterizar o que é arte -
enquanto manifestação cultural universal – como cria uma sombra que acaba por
descaraterizar o esporte semi-profissional, o esporte infanto-juvenil. Como
isso se passa? Muitos exemplos podem servir para ilustrar essa afirmação, em
diversos setores que o esporte abrange, como por exemplo o fato do uso de
tecnologias e usos de substâncias exclusivas não comercializadas, que distancia
cada vez mais cidadãos comuns de atletas, fazendo com que crianças e jovens
espectadores pensem ser inatingível o nível de seu ídolo. Vejo um desinteresse
muito grande dos jovens quando se dão conta disso. Outro fator é o da formação
de jovens atletas estar guiadas para um sistema de extrema competitividade,
estabelecida por resultados. Ora, por quê não pode ganhar a equipe na qual os
jogadores se divertiram mais ao invés de ganhar a que faz mais pontos? (calma…
é só uma provocação, não quero dizer que pense nisso como o ideal). O fato a
considerar é que, na minha opinião, esse sistema excessivamente competitivo faz
avaliações arbitrárias do desempenho dos atletas e da equipe, é excludente, não
promove a cooperação, não tolera o erro, trata adversário como inimigo e
companheiro como concorrente (qualquer semelhança ao ambiente de trabalho na vida adulta não é mera coincidência). É representado pelo famoso modelo hierárquico,
assim como aprendemos que quase tudo podemos colocar numa pirâmide na qual
quanto mais próximo do cume, menos pessoas tendem a chegar. Parece-me que nesse
modelo vencer é requisito para se viver bem. E há quem “perca” a vida correndo
atrás da vitória (muitas vezes a qualquer custo).
Agora algumas perguntas: Podemos não nos
basear nessa figura em forma de pirâmide, ou seja, podemos fazer com que mais
jovens se divirtam e menos abandonem o esporte? E qual a lição que esporte
praticado na rua pode nos ensinar?
Um comentário:
Professor! Muito bom, excelente!!! E ao final, com a foto, fechou mesmo com chave de ouro!!! Quem sabe se as pessoas tivessem algum reconhecimento, esse mundo mudava!!! Parabéns!!!
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