terça-feira, 31 de maio de 2011

O PROGNÓSTICO DO TALENTO ESPORTIVO: EFEITO DA IDADE RELATIVA (PARTE II)

Em esportes que a composição corporal, potência e força são determinantes para o desempenho, indivíduos precocemente maturados tendem a possuir vantagem sobre seus pares que apresentam maturação tardia, considerando a mesma idade cronológica (1,2). Entre a fase da infância e da adolescência (9 – 16 anos de idade), indivíduos em estado de maturação biológica avançada apresentam vantagens na composição corporal, massa isenta de gordura e em uma série de componentes físicos como potência aeróbia, força, resistência e velocidade (3,4).

Comparações entre datas de nascimento envolvendo atletas jovens e profissionais de esportes como beisebol, hóquei, rugby, futebol e tênis revelaram uma distribuição assimétrica favorecendo indivíduos nascidos no início do ano (5). Este fenômeno é denominado Efeito da Idade Relativa - EIR (6). A ocorrência do Efeito da Idade Relativa é atribuída à enorme variabilidade biológica dentro de um grupo de mesma idade cronológica, durante a infância e adolescência (7).

Se assimetrias na distribuição de data de nascimento resultam da variabilidade da maturação biológica, pode-se afirmar que atletas maturados precocemente são favorecidos na seleção e detecção de talentos. Certamente, estudos recentes sugerem que, entre atletas jovens de futebol os quais apresentam maturação física precoce podem ser, preferencialmente, selecionados enquanto os maturados tardiamente são automaticamente excluídos (8,9,10).

A tabela 1 apresenta a distribuição percentual, por quartos de ano, das datas de nascimento de jogadores de futebol pertencentes à equipes de diversos países, demonstrando uma predominância de atletas nascidos nos dois primeiros quartos do ano competitivo (janeiro-março ou agosto-outubro).

Tabela 1 – Distribuição das datas de nascimento de acordo estudos publicados sobre Efeito da Idade Relativa no futebol.



Três argumentos podem ser destacados para explicar o Efeito da Idade Relativa: o atual processo de detecção e seleção de talentos é, expressivamente, influenciado pelos atributos físicos do jovem ao invés das suas habilidades técnicas; a organização das competições de categorias de base consistir em períodos bianuais (ex.: sub-15, sub-17); e a idade precoce em que se iniciam as competições de alto nível no futebol quando comparada a de outros esportes (16).

Em um esporte como o futebol, no qual o desenvolvimento físico avançado é determinante, os jogadores mais jovens (biologicamente e cronologicamente) estão em considerável desvantagem. Muitos jovens talentosos podem ser subestimados simplesmente por nascerem no final do ano e, por conseqüência, pelos atributos físicos inexpressivos.


REFERÊNCIAS
1. Malina, R. M. (1994). Physical growth and biological maturation of young athletes. Exercise and Sports Science Reviews, 22, 389 – 433.
2. Malina, R. M. (1998). Growth and maturation of young athletes: Is training for sport a factor? In K. M. Chang & L. Micheli (Eds.), Sports and children (pp. 133 – 161). Hong Kong: Williams & Wilkins.
3. Beunen, G., Ostyn, M., Simons, J., Renson, R., & Van Gerven, D. (1981). Chronological and biological age as related to physical fitness in boys 12 to 19 years. Annals of Human Biology, 8, 321 – 331.
4. Malina, R. M., Bouchard, C., & Bar-Or, O. (2004). Growth, maturation, and physical activity (2nd edn.). Champaign, IL: Human Kinetics.
5. Musch, J., & Grondin, S. (2001). Unequal competition as an impediment to personal development: A review of the relative age effect in sport. Developmental Review, 21, 147 – 167.
6. Barnsley, R. H., Thompson, A. H., & Barnsley, P. E. (1985). Hockey success and birthdate: The RAE. Canadian Association for Health, Physical Education, and Recreation Journal, 51, 23–28.
7. Baxter-Jones, A. D. G. (1995). Growth and development of young athletes: Should competition levels be age related? Sports Medicine, 20, 59 – 64.
8. Malina, R. M., Peña Reyes, M. E., Eisenmann, J. C., Horta, L.,Rodrigues, J., & Miller, R. (2000). Height, mass and skeletal maturity of elite Portuguese soccer players aged 11–16 years. Journal of Sports Sciences 18, 685–693.
9. Malina, R. M. (2003). Growth and maturity status of young soccer (football) players. In T. Reilly & M. Williams (Eds.), Science and soccer (2nd edn., pp. 287 – 306). London: Routledge.
10. Williams, A. M.; Reilly, T. (2000). Talent identification and development in soccer. Journal of Sports Sciences, 18: 657-667.
11. Brewer, J., Balsom, P., & Davis, J. (1995). Seasonal birth distribution amongst European soccer players. Sports, Exercise and Injury, 1, 154–157.
12. Musch, J., & Hay, R. (1999). The relative age effect in soccer: Cross-cultural evidence for a systematic discrimination against children born late in the competition year. Sociology of Sport Journal, 16, 54–64.
13. Helsen, W. F.; Winckel, J. V.; Williams, A. M. (2005). The relative age effect in youth soccer across Europe. Journal of Sports Sciences, 23(6): 629-636.
14. Mujika, I.; Vaeyens, R.; Matthys S. P. J.; Santisteban, J.; Goiriena, J.; Philippaerts R. (2009). The relative age effect in a professional football club setting. Journal of Sports Sciences, 27(11): 1153-1158.
15. Wiium, M.; Lie, S. A.; Ommundsen, Y.; Enksen, H. R. (2010). Does relative age effect exist among norwegian professional soccer players? International Journal of Applied Sports Sciences, 22(2): 66-76.
16. Helsen WF, Starkes JL, Van Winckel J. (1998). The influence of relative age on success and dropout in male soccer players. Am J Hum Biol, 10:791–798.


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