sexta-feira, 11 de maio de 2012

Formação do Futebol de Base no Brasil. A ‘Tribo’ e seus ‘caciques’: como anda o Projeto São José E.C./Atleta Cidadão

“Há quase cinco meses do último ‘post’, como está o Projeto germinado com o intuito de fortificar o novo paradigma de formação de jogadores no futebol no Brasil”

É interessante quando queremos explicar algo para alguém e temos que buscar formas análogas para expressar o que sentimos, percebemos, sabemos ou pretendemos.
Gostaria de ser mais objetivo, mas uma dose de lirismo sempre me toma a mente.

Uma Tribo!

A “tribo” da abordagem sistêmica-complexa. Assim parece funcionar nossa comissão técnica.

Após 16 meses de trabalho no São José E. C./Atleta Cidadão, estamos em evolução. Evolução de nossa metodologia e construindo um currículo com conteúdos adequados para formação dos nossos jogadores, sem necessidade de copiar nenhum clube “grande”, nem clube internacional de referência; estamos criando nossa maneira de trabalhar.

Todavia, a mudança de paradigma gera bônus e ônus! Vide Thomas Khun (1975).

O bônus disso tudo deve-se, logicamente, ao trabalho dos profissionais envolvidos. Está comprovado e tenho convicção, agora mais do que nunca, que o melhor investimento que um clube formador deve fazer é no recurso humano, em profissionais capacitados. A estrutura física é importante. Mas o bom profissional é determinante. Pois o que se pode fazer com cinco bolas e vinte cones é infinito quando se trata de professores/treinadores que estudam e sabem exatamente como desenvolver as potencialidades dos seus jogadores.

O ônus fica por parte das más impressões que o ‘novo’ causa. Estamos em um momento de crise, de confrontar o paradigma cartesiano, de criticar as atuais metodologias de treino no Brasil (apesar de reconhecer que elas tiveram sua contribuição em parte da história), de trazer soluções à problemas emergentes na formação de jogadores de futebol do nosso país e de propor um olhar complexo sobre essa modalidade para não cometermos o erro (novamente) de pensar que no Brasil os atletas já nascem sabendo jogar futebol ou que treinamentos de adultos reproduzidos para os jovens podem desenvolver mais rápido suas capacidades.

Fiquei com más impressões. Comprei muita briga, coloquei meu nome e, é claro, o nome da instituição na qual trabalho à prova. Mas tive ajuda de quem acreditou na mudança, tive consolo de quem não me deixou abater pelas críticas, tive a base dos estudos para fortificar meus argumentos em reação à argumentos contrários e tive auxílio dos que já estavam antes de eu chegar e de quem chegou depois para fortalecer a ideia, a mesma ideia: mudar o cenário de formação de jogadores de futebol no Brasil.

Avanços:
a) parceria com o futsal nas primeiras categorias (sub 9, sub 11 e sub 13), que nos ajuda a “criar” jogadores mais inteligentes, criativos, autônomos, comunicativos na ação entre outras coisas, os benefícios são muitos;
b) criação de um grupo de estudos para os professores/treinadores, no qual compartilhamos conhecimentos e construimos passo-a-passo uma filosofia de trabalho;
c) interação do dia-a-dia, que é um dos principais fatores congruentes. O treinador do sub 11 sabe que trabalha para o treinador do sub 13, e esse para o treinador do sub 15, e por ai vai. E consequentemente trabalha para e pelo indivíduo, que passa de 5 a 20 horas com ele por semana. Portanto, esse treinador tem total liberdade e apoio de interferir de forma construtiva no direcionamento do trabalho de todas as categorias e não, e tão somente, na categoria na qual atua como treinador principal ou adjunto.

Dentre esse aparente “mar de rosas” é óbvio que muitos problemas acontecem. A estrutura física precisa muito melhorar, o apoio financeiro resolveria esse problema e potencializaria o processo – “ou alguém discorda que o investimento (quando bem aplicado) gera resultados positivos?”

Ademais, é bom trabalhar com profissionais que estudam muito e estão interessados em fazer o Projeto evoluir. Mas tenho que salientar que uma ‘tribo’ onde há mais caciques do que índios é um tanto quanto difícil de posicionar-se. Tem muita informação verídica e científica circulando, temos que negociar à todo instante quando colocamos nossos pontos de vista sobre situações referentes processo de formação e ao treino propriamente dito. Quando negociamos, hora perdemos, hora ganhamos. Entretanto, quem não pode nunca perder é o Projeto. Caso contrário perderemos a essência da nossa missão, dita acima: “mudar o cenário de formação de jogadores de futebol no Brasil.”

Um grande passo já foi dado, com relação ao texto publicado há alguns meses atrás. O próximo passo é manter o foco no processo e lembrar: “quando há mais caciques do que índios, o importante é negociar”.

Abraços!

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